Escritura das Viagens No Papel

As malas estão prontas.
Cabem em seus reservados, restos de um carbono indigesto.

Os invasores da escrita andam sobrecarregados de tinta. 
Querem que a palavra se encaixe em qualquer compartimento,
mas a inspiração lhes rouba a delicadeza do grafite.

A imagem almeja o sangue azul das canetas,
desvirginando papéis.
Neles, os muros e as casas assinam alguém que ama.

Em volta, o pensamento hospeda vontades: 
homem e deus nascem na estrebaria do Verbo.

Como ordenar sentenças, se o ímã do desejo aguarda bússolas? 
Os viajantes não descansam a solidão e suas pedras
à beira do caminho.

Não há poema que lhes oriente ou lhes vingue, 
porque os paradeiros do dizer vêm de molas, sem as malas.
Elas se extraviam.

O branco do olho vê os mapas da viagem. 
O texto nacarado é solidário, e o poeta,
um arrebanhador de pérolas.

A língua umedece vocábulos e pára nas esquinas. 
Saboreia a linguagem dos aventureiros que chegam
a lugar nenhum, porque vivem desgarrados de sentido.

Tenta articular o som dos pés que partem, 
mas chega a sós nas frases inacabadas.
Entre os esboços e uma janela, qualquer escrito nasce prematuro.

Criaturas são incorreções à procura de páginas.

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