O Rosto do Amor
Sempre que vou ao supermercado, uma pequena lista me acompanha.
São produtos e demais necessidades diárias, repostos durante a semana ou no mês.
Penso na música A Lista, de Oswaldo Montenegro.
Dos amigos ou desconhecidos que listam a vida.
Descrevo sentimentos sem a etiqueta dos preços.
Percorro corredores.
Mas há coisas indispensáveis que não deveriam faltar nas prateleiras da alma.
Há uma série de imagens que troco pelas verduras, frutas e cereais.
Imagino o rosto do amor.
Espaços em branco.Criança dormindo. Face molhada do palhaço diante da plateia. Rodopio da bailarina sem a valsa. Livros abertos. Diamante bruto. Casal de idade avançada andando de mãos dadas. Pôr-do-sol visto pela porta. Janela dos olhos sem as grades do preconceito. Reflexo de estrela. Córrego. Som da chuva. Canto gregoriano. Algodão e Flauta doce. Suspiro de amantes. Violeta no parapeito. Peito arfando de saudade. Lágrima de mãe. Colo de pai. Animal afagado. Arco-íris no céu. Pés na terra. Retorno de viagem. Família à mesa. Amantes dançando. Limite confirmado pelo não. Professor aprendiz. Aluno ensinando. Coração em festa. Pele tocada. Sono do trabalhador. Sonho do artista. Fome do conhecimento. Sede em frente ao mar. Sopro de Deus. Verso cantado. Vaso solitário. Presente sem data. Irmãos abraçados. Ombro amigo. Beija-flor na flor. Agasalho doado. Bênção de avós. Cama desfeita. Casa com jardim. Braço estendido. Abraço demorado. Prato desfeito. Caneta e papel entrelaçados. Filme de época. Gargalhada da infância. Parque de diversões. Coreto na praça. Salmos e bíblia. Data de aniversário. Aroma na cozinha. Perfume de mato. Pipoca no cinema. Hortência azul. Terreno baldio.
Que tal você fazer a sua?
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