AS CORES QUE A VIDA SUGERE


Foram semanas indo e vindo do hospital.
Corredores estreitos, para uma vida longa de aprendizado.
Quando vi o rosto do amor, supus imagens e sentimentos como se estivessem expostos numa prateleira sem preços.
Agora, o arco-íris se apresenta como uma possibilidade de um tesouro imprescindível: a gratidão.
Aos que estenderam suas mãos e foram além do que sua profissão médica determina, minha singela descrição.
Assim, decidi pelos imperativos da emergência que é sobreviver, escrever sobre o que vi e ouvi, a partir de cores que surgirão nos futuros textos.
Este traduz o branco.

Espaços suspensos. Olho carregado de lágrimas. Nuvem desenhada pela chuva. Algodão doce no azedo do pessimismo. Lençol trocado. Vestido de noiva sem altar. Risada de criança. Papel virgem. Cheiro de novo. Guarda-pó no consultório. Silêncio na ante-sala. Aquário vazio. Memória esgotada. Saudade. Leito sem acompanhante. Ambulância estacionada. Cuidado dos enfermeiros. Adeus sem volta. Partida dos amigos. Sonho repetido. Despertar na madrugada. Cisnes na lagoa. O que poderia ser dito. Espuma do mar. Bolhinhas de sabão. Geladeira . Pedrinhas de gelo. Carinho espontâneo. Sala de aula. Azulejo. Lajotas de uma casa em ruínas. Coração aconchegado. Tela com copos-de-leite. Leite materno. Rosto do pai à espera do beijo. Pés engessados. Folha sedenta da palavra. Campo de margaridas. Abraço do doente. Paciente espera. Pedrinhas de gelo na janela. Neve no calendário. Sapato de cristal. Meia-noite sem a Cinderela. Vaso solitário. A flor da pele. Porta aberta. Música orquestrada. Renúncia. Tábula rasa. Blusa da amiga. Colo de irmãos. A paz na cadeira de balanço. Vitral de pombas. Caixa de giz da infância. Pedido de perdão. Neblina no asfalto. Improviso. Roupa no varal. Limpeza da alma e seus guardados.

Os pincéis estão à espera!

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