NOMES DA DOR

Rita de Cássia Alves

Estar feliz posiciona o espírito no enfrentamento doloroso.
Entre falas reservadas, contagiantes ou íntimas, a dor expõe suas mais diferentes molduras.
Reveste-se de múltiplos nomes na solidão.
Faz barulho, inquieta multidões, isola-se no pranto.
A dor envolve-se de embrulhos e pacotes.
Nos frascos da alma, lágrimas são denunciadas.
Passeia com as mãos atadas e dança aos pares: há uma valsa escondida, em cada rosto, dentro dos ancionatos; nas calçadas dos que vendem o corpo fragmentado; nas conversas entre amigos que temem a morte e a traição.
Os que se esquivam da dor, moram nela. Possuem endereço certo e sonham com a casa nova.
A dor brinca com a persistência, e o passado a retém, mas ela escapa.
Lutas, tropeços e desafios sabem que doem.
Mesmo indolor, o tempo arrasta, avisa, consome horas.
Ponteiros brincam de amor e as carícias se alongam mais que os braços.
Há ataduras doloridas na paixão desavisada, arrastando móveis e pernas.
Um sorriso bate à porta e traz consigo um cartão de visitas: as dores ficam expostas.
Dependendo da cicatriz, a dor batizada recebe um outro nome.
Na lista dos poetas, é anunciação.
No peito dos saudosistas, veste luto.
Dentro dos cômodos sem luz, vira silêncio.
A dor requer anonimato.
Anfitriã dos mistérios, a dor é alma-gêmea da mágoa.
Quando fingida, exige platéia e convidados.
Entra de mansinho nas cavernas do corpo e arde.
Encoberta por ricos lençóis, deixa os pés à mostra: a dor descalça não precisa de meias-vontades.
O humano tece sua outra pele, doendo.
As dores vêm repletas de estradas e atalhos.
Cabe aos deslumbrados, evitá-las nas pontas, não aos extremos.

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