Poesia do dia

Mais um exercício poético desta aprendiz!

TOQUE DO ESMERIL NO POLIMENTO DOS SENTIDOS

I
Nasce dentro deste tronco, o destro da mão que se lapida.
Ampara-se nas raízes pegajosas, drenando a seiva
do verso-toque.
Dirão que expele a pele da terra, enquanto o chão árido
abre as pernas ao ocaso.
Dedos são heras que transcendem
o dia
( amante bruto).
Suas falanges descansam sóis.
Do parto das manhãs adivinha-se o rosto dos rebentos:
polvos trazem ataduras na ponta das águas.
II
A maresia é anunciada.
Pelo nariz sangram iaras e botos, vítimas do odor das algas.
Sujeitos ao aconchego da pedra, respiram homens.
Nas profundidades, a memória é um cântico
cheirando pescoços nus à beira-mar.
III
Degustar o umbilical da boca, permite ao paladar
que se amolde e se lapide: olhos salivam sal.
Pelo sabor dos agostos, o outono lambe folhas.
Muitos não somos nós, que cuspimos a flor
antes de digerir os brotos.
Verde e azul casam línguas.
IV
Que os ruídos do desejo cessem, pois lapidar árvores
é feitura de ouvidos.
Pinturas rupestres desencadeiam a caça e os ruídos da mensagem.
Humanos também despem seus falares, quando o amor deita
à sombra e escuta.
Fomes ensaiam culturas e o nome é gravado nas resinas
de uma entrecasca surda.
Quem há de perceber sussurros quando a voz que geme
é a do vento?
V
Vinde “amantes de si mesmos” cansados de trégua
ao vazar suas retinas.
Estar em compaixão sugere dentros, sem que a pálpebra
precise de enxergamentos.
Aquele que observa a superfície, fala, ouve, saboreia e emudece
junto aos pegares do sentimento.
Desbastar as diferenças acasalam os sentidos.
Assim,
Deus afia Suas ferramentas
porque o homem desafia as lâminas quando chora.

Rita de Cássia Alves

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